terça-feira, 16 de maio de 2017

Conceito de substância para Aristóteles

Conceito de substância para Aristóteles
Texto didático para o curso de metafísica – C. F. Costa – ppgfil/UFRN http://textosdefilosofiacontemporanea.blogspot.com.br/
 O QUE É A SUBSTÂNCIA?
                                     
                                                           A natureza ama ocultar-se.
                                                           Heráclito                                         
     O termo substância é uma tradução da palavra latina substantia, que significa aquilo que está sob, que fundamenta. Substantia, por sua vez, é uma tradução latina do termo grego ousia, que significa ‘o ser’. Substância é um termo de arte filosófico que, diferentemente de muitos outros (como verdade, significado, causa...) não tem equivalente apropriado na linguagem ordinária. Nessa última chamamos geralmente de substância o stoff constitutivo das coisas como o ferro, o carbono, o plástico, o óleo de linhaça... o qual é quimicamente definível em termos de combinações de átomos com propriedades específicas. A palavra ‘coisa’ tem um significado aproximado. Ela se refere geralmente a objetos materiais. Mas a substância não é o mesmo que o objeto material, que tem todas as suas propriedades à mostra. Ela é aquilo que fundamenta, que em algum sentido está sob (sub-stare) a coisa visível.
     Qual é a razão original para a introdução do conceito de substância? A resposta é: para a explicação da mudança. Quando as coisas materiais mudam, mudam as suas propriedades. Um pedaço de cera, quando aquecido, deixa de ser sólido e opaco para tornar-se líquido e transparente. Nesse caso, por que dizemos que ele ainda é o mesmo? A resposta é: porque a sua substância permaneceu a mesma. Há dificuldades com essa resposta. Afinal, coisas como a massa e o peso do pedaço de cera também são propriedades, que no caso permaneceram as mesmas. No que se segue quero historiar brevemente a evolução do conceito de substância na filosofia, propondo no final que ele seja explicado em termos de conceitos físicos fundamentais.
     O conceito aristotélico de substância
     Aristóteles sugeriu vários conceitos de substância. Eles são supostamente complementares, mas ele não explicou suficientemente as relações entre eles. Podemos classificar os principais dentre esses conceitos como sendo 1) aquilo que não é predicável; 2) aquilo que existe independentemente; 3) aquilo que permanece através da mudança; 4) a união da matéria e da forma essencial.
     A definição de substância como aquilo que não é predicável é a seguinte:
Aquilo que é chamado de substância mais estritamente, primariamente e acima de tudo, é aquilo que nem é dito de um sujeito nem em um sujeito, por exemplo, o homem individual ou o cavalo individual(1).
     Aristóteles propõe aqui critérios lingüísticos: a substância é aquilo que não pode ser designado por um predicado como pertencendo a um sujeito ou estando nele, dando como exemplos de substâncias particulares concretos como este homem e aquele cavalo. Apesar de interessante, essa sugestão é ontologicamente insatisfatória, pois não chega a dizer o que a substância é.
     Na segunda definição, a substância é concebida por Aristóteles como aquilo que existe independentemente. Enquanto uma propriedade depende da substância para existir, a substância não depende da propriedade para existir. Se as substâncias primárias não existissem seria impossível para qualquer das outras coisas existir(2). Isso vale mesmo para o que ele chama de substâncias segundas, que são predicados distinguindo os tipos de coisa que são substâncias, como ‘...é um homem’, ‘...é um cavalo’. Sendo assim resta a pergunta: o que é aquilo que existe independentemente?
     Vejamos agora a concepção de substância como aquilo que permanece através da mudança:
O distintivo da substância é que ela é numericamente uma e a mesma e que é capaz de receber contrários. Em nenhum outro caso podemos ter algo numericamente único, que seja capaz de receber contrários.(3)
     Além da dificuldade colocada no início, essa definição trás consigo uma outra, levantada pelo próprio Aristóteles, qual seja: a de que há outras coisas que não são substâncias e que podem sofrer mudanças. Uma crença, por exemplo, pode deixar de ser considerada verdadeira para ser considerada falsa. A resposta de Aristóteles é que a mudança da crença é extrínseca a ela, enquanto a mudança na substância ocorre nela mesma; em outras palavras, só substâncias sofrem mudanças intrínsecas. Mas que dizer de uma superfície que muda a sua forma? Não é essa uma mudança intrínseca? Contudo, ninguém diria que a superfície é substancial.
     A quarta e mais sofisticada definição é a que aparece na Metafísica. Nesse texto, após rejeitar a idéia de que a substância seja apenas a matéria (o substrato), posto que isso não daria conta da separabilidade e individualidade da substância, ele conclui que
A forma e o composto de matéria e forma parecem ser mais substância do que a matéria(4).
      A substância é, pois, a forma individuadora da matéria(5). Contudo, à parte a dificuldade de que formas são universais, enquanto a substância é um particular, o que seria essa forma substancial? Os melhores candidatos seriam espécies como ‘homem’ e ‘cavalo’, dificilmente distinguíveis do que Aristóteles chamava de substâncias segundas (designata de nomes substantivais), que são categorias predicáveis da substância primeira, da substância em sentido próprio. Além disso, espécies são constituídas de propriedades, as quais são também universais. A última sugestão de Aristóteles é tão mais refinada quanto controversa.
O conceito de substância na filosofia moderna
     Filósofos como Descartes e Locke desenvolveram a idéia de que a substância é um substrato independente, em relação ao qual as propriedades ou atributos subsistem ou inerem. Descartes, como dualista, sugeriu a existência de duas substâncias: a extensa, constitutiva dos corpos físicos, e a pensante, constitutiva das almas e mais propriamente de Deus. Elas se distinguem pelos seus atributos essenciais, que são respectivamente a extensão e o pensamento(6). Por não se confundir com os seus atributos a substância torna-se assim um substrato nu.
     Também para Locke a substância tem a ver com um substrato nu que dá unidade aos atributos a ele inerentes. Como observou Locke:
Não podendo imaginar como as idéias subsistem por si mesmas, acostumamo-nos a supor um substrato no qual elas subsistem e do qual resultam, o qual chamamos de substância(7).
     Essa concepção de substância admite duas formas: 1) ela é o substrato nu, incognoscível; 2) ela é o complexo formado pelo substrato nu e pelo conjunto de qualidades a ele inerente que constituem a sua espécie (sortal), como o homem ou o cavalo.
     Em qualquer dessas versões ela é problemática. O teorista do substrato nu precisa atribuir ao substrato várias propriedades: ele deve ser tal que as propriedades devem subsistir nele, ele tem a propriedade de ser concreto, tem a propriedade de ser uma substância e, além disso, a propriedade de não ter nenhuma propriedade, o que parece tornar a idéia de substância contraditória. Além disso, a idéia de um substrato em si mesmo incognoscível não satisfaz um razoável princípio da verificação. E se isso vale para a primeira versão da teoria, vale também para a segunda.
     Outra teoria da substância é aquela segundo a qual ela se caracteriza por ser independente de outras entidades. Já vimos essa idéia em Aristóteles quando ele sugeriu que substâncias não são objetos de predicação. Contudo, ela aparece mais claramente em Descartes, segundo o qual substâncias são o que existe por si mesmo sem precisar de nenhuma outra coisa para existir. Para Descartes, a única coisa que satisfaz essa definição completamente é Deus; as outras substâncias são as que só dependem de Deus e de mais nada para existir.
     O filósofo que mais se valeu da teoria da independência da substância foi Spinoza. Eis a sua famosa definição:
Por substância entendo aquilo que é em si mesmo e que por si mesmo é concebido; ou seja: o seu conceito não requer o conceito de outra coisa de cujo conceito ele seja formado(8).
Nesse sentido, a substância não pode ter a sua existência causalmente produzida ou sustentada por qualquer entidade. Tal substância é para Spinoza o universo inteiro, o qual possui um número infinito de atributos, apenas dois deles sendo acessíveis à mente humana: a extensão e a consciência. Contudo, essa concepção se opõe ao senso comum, para o qual há muitas substâncias constitutivas das coisas particulares.
     A última concepção a ser considerada é a teoria do feixe (bundle ou cluster theory). Há duas versões fundamentais, ambas aludidas por Hume(9). A primeira é eliminativista: substâncias não existem. O que existe são feixes de entidades não-substanciais. A outra versão é reducionista: substâncias nada mais são do que os próprios feixes de entidades insubstanciais. Hume dá a entender essa última versão ao considerar que a idéia da substância é apenas a de uma coleção de idéias simples, unidas pela imaginação.
     Segundo essa última teoria, uma substância é um conjunto ou coleção de não-substâncias do tipo apropriado; uma maçã, por exemplo, constitui-se de certa cor, certo gosto, certo odor, figura e consistência que se encontram juntas. A noção de conjunto é aqui problemática, posto que conjuntos são entidades abstratas e substâncias são concretas. A palavra coleção é mais adequada, entendendo-se por ela uma soma mereológica (das partes) de entidades.
     Há também a questão da natureza dos componentes não-substanciais que compõem a coleção. Para uns trata-se de propriedades universais, como o vermelho em si e a forma esférica em si. A objeção a isso é que se a substância se identifica com um feixe de entidades abstratas, ela mesma passa a ser uma entidade abstrata. Ora, como a substância é intuitivamente uma entidade concreta, espácio-temporalmente localizável, essa concepção é inadequada.
     Uma outra solução é a que identifica os componentes não-substanciais com estados mentais, impressões de sensação e de reflexão, no dizer de Locke. Essa solução, que já foi chamada de colecionismo fenomenalista, parece ser igualmente problemática, posto que ela também deixa sem explicação as substâncias concretas que constituem o mundo físico(10).
     Uma solução mais auspiciosa seria a que se vale de propriedades instanciadas (property-instances) ou tropos (tropes) como partes, ou seja, de propriedades espácio-temporalmente localizadas, às quais temos acesso experiencial no sentido mais amplo possível, o que inclui propriedades físicas e mentais, simples e complexas. Essa posição, o colecionismo dos tropos, também está aberta a objeções.
     Uma primeira é a de que intuitivamente nenhuma propriedade da substância é parte da substância. Por exemplo: a forma e o tamanho de um objeto material não parecem ser partes de sua substância. Outra objeção refere-se à unidade das qualidades. Considere a coleção dos violetas de uma beterraba, ou a coleção dos sentimentos que tenho ao ouvir uma música. Essas coleções não são substâncias. Como o colecionista pode excluí-las?
     Alternativas plausíveis
     Uma primeira sugestão alternativa para a qual quero acenar começa com o abandono da teoria do feixe de tropos – que combinados parecem constituir objetos materiais, mais do que substâncias – por uma tentativa de encontrar tropos essenciais, necessariamente presentes em qualquer caso de entidade material. Quais seriam eles? A solidez, por exemplo, é comum a todos os corpos materiais. Ela vem acompanhada de certa forma e volume. Mas forma e volume podem variar. Ademais, líquidos como a água de um copo, ou gazes como o ar de um balão, não são sólidos, embora também contenham substâncias.
    Se formos além e buscarmos alguma coisa única e essencial a todas as entidades materiais, a resposta natural é que ela é a própria matéria, definida em física como tudo aquilo que ocupa um espaço (volume). O conceito de matéria está intrinsecamente associado ao de massa (ou de massa-energia), definido pela física como a quantidade de matéria. A massa é em física duplamente definida como a medida da resistência do corpo à aceleração (massa inercial) e como aquilo que produz atração gravitacional em proporção à sua quantidade (massa gravitacional); como essas duas medidas sempre se mostraram proporcionais, elas devem ser medidas da mesma coisa. Pode parecer que esses conceitos de física sejam demasiado distantes do que Aristóteles possa ter tido em mente quando falou de substância. Contudo, devemos lembrar que o senso comum sempre teve implícita a idéia de matéria como aquilo que ocupa espaço e de massa como a resistência dos corpos às forças aplicadas a eles... Isso explica o fato de Aristóteles também ter podido identificar a substância à matéria.
     Só isso, contudo, não basta. É ainda necessário individuar uma porção de matéria de modo a poder distingui-la de outras, introduzindo uma exigência de continuidade de localização. Em outras palavras: a massa precisa ser espácio-temporalmente localizável, e o seu deslocamento, caso ocorra, deve obedecer a certa ordem de continuidade. A substância passa então a ser definida como a matéria continuamente localizável. Com efeito, uma matéria continuamente localizável é um substrato capaz de permanecer através de mudanças. Ela é constatável através de um “atributo essencial”, a massa, que se faz reconhecível através dos tropos a ela associados, como os de solidez, forma, volume... que são acessíveis aos sentidos. Parece que com essa interpretação seria possível resgatar a noção de substância como o substrato último.
     Contra essa sugestão é fácil objetar que quando identificamos coisas no tempo é freqüente que a matéria possa ser substituída sem que o suporte da mudança se modifique, seja ele qual for. Assim, podemos substituir a cabeça de um martelo e, tempos depois, o cabo, e ainda assim dizer que é o mesmo martelo, o mesmo se dando com vegetais e animais que, com o passar dos anos, têm toda a sua matéria corpórea substituída. Neste caso, o que permanece durante a mudança não é mais a substância, entendida como o substrato último, mas a substância entendida como objeto de predicações expondo um tipo de coisa que o objeto material ou o particular continuamente localizado é, ou seja, um martelo, uma árvore, um animal, uma pessoa. Essa última sugestão nos trás de volta à sugestão dos sistemas de tropos. Ela nos afasta da idéia de substrato, mas faz-nos recordar das duas primeiras definições aristotélicas e sugere uma resposta mais satisfatória à questão do que permanece através da mudança(11).
Notas:
1 Aristóteles: Categorias, sec. 5.
2 Aristóteles: Categorias, sec. 5.
3 Aristóteles: Categorias, sec. 5.
4 Aristóteles: Metafísica, VII, sec. 3.
5 Howard Robinson: “Substance”, in Stanford Encyclopedia of Philosophy (internet 2004), p. 5.
6 René Descartes: Discourse de la Methode, cap. IV.
7 John Locke: Essay Concerning Human Understanding, livro 1, cap. XXIII, § 1.
8 Baruch Spinoza: Ethica Ordine Geometrico Demonstrata, Parte I, Definições III.
9 J. Hoffman & G. S. Rosenkrantz: Substance: its Nature and Existence (Routledge: London 1997), pp. 26-27.
10 J. Hoffman & G. S. Rosenkrantz: Substance: its Nature and Existence, p. 29.
11 Um desenvolvimento dessa alternativa encontra-se em David Wiggins: Sameness and Substance (Cambridge University Press: Cambridge 1996, sec. ed.).


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May 16, 2017 at 10:58PM
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quinta-feira, 4 de maio de 2017

A flecha quântica do tempo: Por que o tempo não anda para trás

A flecha quântica do tempo: Por que o tempo não anda para trás

A flecha quântica do tempo: Por que o tempo não anda para trás

JR Minkel - Physical Review Focus -  22/01/2010
A flecha quântica do tempo: Por que o tempo não anda para trás
Não importa quantas vezes você misturar leite no seu café, você nunca os verá se desmisturarem espontaneamente graças ao inescapável aumento na entropia do Universo. Mas as leis da física não têm preferência pela direção do tempo. [Imagem: iStockphoto/danesteffes/PRF]
A seta do tempo e a entropia
As leis matemáticas da física funcionam tão bem para os eventos do passado quanto para os eventos do futuro. No entanto, nunca no mundo real a porção de café em uma xícara se desmisturou do leite.
Agora, uma nova teoria pretende oferecer uma nova explicação para este aparente conflito entre a simetria do tempo das leis físicas e a chamada "seta do tempo", sempre apontando para o futuro, que nós vemos nos eventos cotidianos.
Quando vistos em termos quânticos, os eventos que aumentam a entropia do Universo deixam registros de si mesmos em seu ambiente. Os pesquisadores propõem que eventos que dessem marcha a ré no tempo, indo para o passado, reduziriam a entropia, não podendo deixar qualquer vestígio de terem ocorrido, o que equivale a não terem de fato ocorrido.
Termodinamicamente falando, sempre que dois corpos de temperaturas desiguais são postos juntos, a energia flui entre eles até igualar as duas temperaturas. Associado com essa difusão de calor está um aumento na quantidade conhecida por entropia. Tanto quanto saibamos, o calor nunca flui espontaneamente no sentido inverso, e a entropia do Universo está sempre aumentando.
Reverter a seta do tempo seria equivalente a diminuir a entropia, por exemplo, se um objeto a uma temperatura uniforme espontaneamente se aquecesse em um ponto e se resfriasse em outros.
O demônio de Maxwell
Em um experimento mental do século 19, um poderoso diabinho chamado demônio de Maxwell foi capaz de realizar uma separação assim para um gás ao conhecer a posição e a velocidade de cada molécula do gás no interior de uma caixa com uma partição.
Usando um obturador em um buraco na partição, o demônio retém as moléculas de alta energia em um lado e permite que as moléculas de baixa energia se juntem do outro lado.
Acontece que o demônio teria de gastar energia e aumentar a sua própria entropia, de modo que a entropia total do Universo continuaria subindo.
Do fluxo de calor para o fluxo de informação
No mundo quântico, o demônio redutor de entropia teria uma tarefa diferente porque, na versão da mecânica quântica da entropia, não é o calor que flui quando a entropia muda, é a informação.
Lorenzo Maccone, da Universidade de Pavia, na Itália, agora descreveu uma outra experiência mental para ilustrar as consequências da redução da entropia quântica.
Uma pesquisadora, Alice, mede o estado do spin de um átomo enviado por seu amigo Bob, que está, em tudo o mais, totalmente isolado do laboratório de Alice. O átomo está em um estado combinado (superposição) de spin para cima e spin para baixo simultaneamente, até que Alice o meça, quando então ele se mostrará para cima ou para baixo.
Do ponto de vista de Alice, seu laboratório ganha um único bit de informação do exterior, que é então copiado e gravado em sua memória e no disco rígido do seu computador. Esta informação que flui do átomo para o laboratório aumenta a entropia, do ponto de vista de Alice.
Maccone argumenta que, como Bob não vê o resultado, do seu ponto de vista o estado do spin do átomo nunca se resolve em para cima ou para baixo. Em vez disso, ele torna-se quantum-mecanicamente correlacionado, ou entrelaçado, com o estado quântico do laboratório. Ele não vê nenhum fluxo de informação e nenhuma mudança na entropia.
Apagando o passado
Bob desempenha o papel do demônio de Maxwell. Ele tem o controle total do estado quântico do seu laboratório. Para reduzir a entropia do laboratório, do ponto de vista de Alice, Bob inverte o fluxo daquele bit de informação removendo qualquer registro do spin do átomo do disco rígido de Alice e do seu cérebro.
Ele faz isso por meio de uma complicada transformação que desentrelaça o estado quântico do laboratório do estado quântico do átomo. Maccone escreve em seu artigo que tal reversão não viola as leis da física quântica.
Na verdade, da perspectiva de Bob, a informação quântica do átomo mais o laboratório de Alice é a mesma quer os dois estejam entrelaçados ou não - não há mudança na entropia como quando se olha de fora.
Irreversibilidade do tempo
Essa reversão poderia acontecer na vida real, afirma Maccone, mas porque o Universo - como Alice - não manteria nenhuma lembrança deles, eles não teriam nenhum efeito sobre como nós percebemos o mundo.
O artigo passa a mostrar matematicamente como este raciocínio se aplica de forma geral, com o Universo tomando o lugar de Alice.
Jos Uffink, da Universidade de Utrecht, na Holanda, aceita alguns aspectos do trabalho mas não está totalmente convencido. "O observador pode muito bem reter uma memória parcial do evento," depois do processo de redução da entropia, diz ele. Mesmo assim, ele chama a abordagem do artigo de "completamente nova" e as suas conclusões de "surpreendentes".
Uffink afirma que continua a haver um vigoroso debate sobre a relação entre a informação como uma quantidade física objetiva e a "irreversibilidade" aparente de tantos eventos no mundo ao nosso redor.
Bibliografia:

Quantum Solution to the Arrow-of-Time Dilemma
Lorenzo Maccone
Physical Review Letters
Vol.: 103, 080401 (2009)
DOI: 10.1103/PhysRevLett.103.080401



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May 04, 2017 at 08:18PM
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